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2012 - O ANO DA PROFECIA MAIA

domingo, 19 de julho de 2009

Cultura e Sensibilidade – O Código da Música Popular Brasileira

Letras, melodias e interpretações também traduzem espiritualidade.

Autoria de Edson Rodrigues Pereira
(texto transcrito da Revista Internacional de Espiritismo – Março/2005)

Pesquisadores, escritores e cientistas têm-nos revelado nos últimos anos abordagens interessantes e diferenciadas de textos e obras de arte que até então quase homogênea. Dentro desse contexto tivemos publicados: o Código da Bíblia, o Código de Leonardo Da Vinci, o Código de Michelangelo e mais alguns outros.
Esses estudiosos mostram em suas pesquisas o outro lado da moeda que passou desapercebido aos mortais comuns, mas que talvez tenha sido o objeto da revelação deixada por seus inspirados autores e que tinham mesmo a missão de trazer à Terra – por vias diríamos insuspeitas – grandes revelações do mundo espiritual. Falo assim porque não acredito que a mensagem espiritual que desce do Alto tenha que ter como único veículo somente homens e mulheres engajados especificamente no trabalho religioso ortodoxo. Garimpeiros da estesia, os artistas “profanos”, rotulados como possuidores de uma obra considerada laica, certamente têm acesso aos planos superiores; desde que seus méritos pessoais o permitam, e se tenham predispostos a isso, podem ser missionários na seara onde militam.
Como sou assíduo ouvinte de música popular brasileira, tive a minha atenção despertada para certas canções cujas letras pareciam nos dizer algo mais do que estava explícito em sua poesia e musicalidade. Veio-me, então, a pergunta: Será que também não temos um código da Música Popular Brasileira?... Será que o conteúdo dessas músicas consideradas profanas também não possui uma mensagem espiritual?... Vamos focalizar somente pequenos trechos e algumas dessas obras, deixando para o leitor a tarefa de apreciá-la em sua integridade.
Quem ouve “Se eu quiser falar com Deus”, gravada pela Elis Regina e pelo autor Gilberto Gil, não pode deixar de se emocionar pela maneira com que a prece é descrita e, também, como deve ser conduzida em seu conteúdo e em sua formulação. O autor nos ensina que para falar de Deus “tenho que ficar a sós”; Jesus nos ensina a nos retirarmos para o nosso “quarto de guardados”, ou seja, para nossa intimidade mais secreta. Continua a letra, “tenho que calar a voz”, eis uma observação bastante oportuna para muitos que fazem da prece uma tribuna onda a conversa pessoal com Deus fica para segundo plano. A oração se transforma então em uma melopéia demagógica, costurada de frases de efeito, eivadas de uma pregação moralista disfarçada, endereçada aos ouvintes que, em sua maioria, não estão ligados a estas preces intermináveis (conheço um cidadão que gasta em média 15 a 20 minutos em cada prece que faz, uma no início e outra no final da reunião). Continua Gil, “tenho que encontrar a paz, tenho que folgar os nós dos sapatos, da gravata...”, “se eu quiser falar com Deus tenho que aceitar a dor...”, quantos de nós vivemos revoltados com as dificuldades da vida e com isso agravamos as provas pelas quais temos que passar, esquecendo-nos que são necessárias ao nosso aprimoramento. Ao final escreveu Gil, “se eu quiser falar com Deus tenho que dizer adeus, dar as costas, caminhar decidido pela estrada que ao findar vai dar em nada,... nada... do que eu pensava encontrar”. Foi isso mesmo que Jesus disse ao jovem “deixa tudo que tens e segue-me”. Que Deus é este que busquemos em desabalada carreira, nos templos, nos centros, nos altares e nas promessas vãs que fazemos de nos mudarmos no futuro, mas atados ao passado? Esquecemos-nos que Ele está ao nosso lado esperando; entretanto nós não conseguimos encontrá-lo.
Mas se pensamos que Gil disse tudo com todas essas palavras vamos nos surpreender com Renato Teixeira em “Romaria”, aquela que diz “Sou caipira, Pirapora Nossa Senhora de Aparecida...”, lembram? Pois bem, Renato consegue uma síntese de sublime beleza ao final dessa poesia quando diz: “Como eu não sei rezar só queria mostrar meu olhar, meu olhar, meu olhar...”. Mais ainda é o mesmo Renato Teixeira que, na canção, “Raízes”, gravada em 1992, nos fala das “Vibrações da nova hora” e que “Amanhecer é uma lição do universo que nos ensina que é preciso renascer”; só o ser humano é que não aprendeu esta lição.
A música “Encontros e Despedidas” é de autoria de Milton Nascimento e Fernando Brandt e foi gravada pelo Milton em 1985. Sua letra nos fala logo de início “Mande notícias do mundo de lá”, e faz uma perfeita analogia entre “a vida se repete na estação” e “a plataforma desta estação é a vida deste lugar”, assim os autores descrevem o processo dinâmico da evolução através do fenômeno da vida e da morte (a vida se repete) num continuo incessante, usando (o processo) como plataforma (no sentido simbólico de base de sustentação) a vida e complementam que pela vida todos os dias “tem gente que chega pra ficar” – espíritos que reencarnam; “tem gente que vai pra nunca mais” – espíritos desencarnam. Falam também da estreita relação entre os dois mundos, dizendo “tem gente que veio só olhar”; referem-se por certo aos espíritos que conosco vivem e nos acompanham, vigiando-nos; uns só olhando, outros chorando, outros sorrindo: “tem gente a sorrir e a chorar”. “São só dois lados da mesma viagem”, ou seja, vida e morte. Chegada e partida; são os dois aspectos de uma só realidade que podemos sintetizar como a evolução da individualidade ou do princípio inteligente, se assim preferirmos entender.
Beto Guedes e Ronaldo Bastos em “Amor de Índio” afirma “tudo que move é sagrado”, independentemente de serem orgânicos ou inorgânicos, racionais ou irracionais; a qualidade que parece nos apontar a presença de um rudimento ou da mônada intelectiva em tudo o que nos rodeia é o movimento; assim nos lembra a poesia que a vida, se manifestando em todos os seres partícipes da obra de Deus, os torna sagrados e, como tal, devem ser tratados. “E remove as montanhas com todo cuidado” – Jesus nos fala em seu Evangelho das montanhas, óbices que temos de remover através de esforço individual; mas devemos fazê-lo com muito cuidado, através de nosso trabalho, tal como “Abelha fazendo o mel vale o tempo que não voou” e “A massa que faz o pão vale a luz do teu suor”. Interessantíssimo o verso a seguir que diz: “Lembrar que o sono é sagrado / E alimenta de horizontes o tempo acordado de viver”. Será que os autores referem-se ao ensinamento que os espíritos nos deram no sentido de que, ao dormirmos, podemos renovar no mundo espiritual nossos propósitos mais elevados da Vida? Na canção “O sal da terra”, escreveram os mesmos autores: “Tempo, quero viver mais duzentos anos / quero não ferir meu semelhante / nem por isso devo me ferir”. Como viver mais duzentos anos? Numa vida só? Muito se fala em não se magoar o próximo, mas isto só é possível se apreendermos a nos respeitar. “Um mais um é sempre mais que dois” – péssima matemática, mas perfeita lembrança da promessa de Jesus que nos ensina que onde dois se reunir em seu nome Ele está entre eles e mais. “Para melhor juntar as nossas forças / É só repartir melhor o pão / Recriar o paraíso agora / Para merecer quem vem depois”; todos nós sabemos que o paraíso que pretendemos habitar do outro lado é resultado daquele paraíso que criarmos agora.
Em Salvador, no dia 14 de Junho de 1976, o espírito Amélia Rodrigues escreve, pelas mãos do médium Divaldo Pereira Franco, uma mensagem que se encerra assim: “Após meditar longamente no sempre jovem poema Boa Nova, reunimos estas narrações com que desejamos homenagear os que esperam passar este Inverno e esta noite na certeza de que tudo mudará quando voltar a primavera...” Jesus prossegue sendo a eterna primavera por que todos anelamos.
Em 1978, Beto Guedes e Ronaldo Bastos lançam a música “Sol de Primavera” que diz: “Quando entrar setembro / E a boa nova andar nos campos”; a canção continua falando do “Sol de Primavera” que brotará nos campos de colheita de uma humanidade que tiver plantado a boa nova e termina nos lembrando: “A lição sabemos de cor, só nos resta aprender”.

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Meus comentários virão depois. Resta-nos pensar, analisar e debater. Quem se habilita?

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